segunda-feira, 5 de novembro de 2012

pronto!

Há tempos atrás, um bom tempo, me parece, mas pode ter sido ontem pela manhã (quem me conhece, ao menos um pouco, sabe bem que tempo não é comigo), quando eu era um adolescente, o tédio era seguido por um tipo de energia que me empurrava a fazer alguma coisa.

Alguns chamam a isso de inspiração, angústia criativa. Não lembro de, nesta curta existência (longa de mais, porém), ter acreditado em inspiração. Prefiro tratar por vontade, vontade de qualquer coisa, de sobreviver matando o tédio. Tudo que fiz começou na vontade de fazer, de bom ou de ruim, não vou tentar lembrar algo bom agora, chega de frustração por hoje! Vontade, alguém quer, vai lá e faz, e pimba.

Estranho é que há tempos não quero nada, não quero fazer. Acho que me acostumei com o mundo pronto, os seres prontos, verdades prontas, modelos prontos, sorrisos prontos, arte pronta, vida pronta, morte pronta. Deem-me pronto, tudo pronto. 

Hoje, senti novamente aquela agonia típica da adolescência que pede um exorcismo, fosse que fosse um poema, uma letra de música, uma reza pronta ao deus pronto, sempre pronto para ignorar, meia dúzia de acordes, fosse o que fosse pra matar o tédio e simular sentido no que não concentra sentido algum. 

Não fiz uma canção, nem letra para uma canção, nem peguei o violão, sequer escrevo a fim de matar meus demônios, escrevo para dizer que eles venceram e que a noite será imensa, mas que tanto faz, vou comer o que tem pra hoje.

Às canções que estão no éter ou sob gordura e lodo deixados nas cordas da guitarra à espera de forma: apareçam quando quiserem, se quiserem. Se podem escolher, não saiam de lá, tratarei vocês como um pai trata um filho, com injustiça e severidade, jamais confiarei em vossa importância ou capacidade, surrarei cada nota com minha voz triste, cheia de médio e desafinada. 


p.s: se alguém souber o que é que eu tô fazendo aqui, me manda um e-mail contando!


http://www.youtube.com/watch?v=-AI3KSC7mI8&feature=related

domingo, 14 de outubro de 2012

"você merece"

"peço licença pra entrar em vossa casa, meu caro senhor, minha cara senhora!"

é assim que, de dois em dois anos, sujeitos iniciam seus discurso em busca do emprego dos sonhos. não falarei dos tipos bizarros ou mais bizarros que aparecem na tv após o almoço ou a janta (isso pra quem almoça e janta),  falarei de um fato que me chamou muita atenção na última eleição aqui em feira, o reacender da crença entre os jovens medianos da cidade.

aqui na cidade, apareceu um candidato novo disputando o cargo de prefeito, afiliado a um partido de bases ideológicas socialistas, mais que isso, um partido fundado por ex-membros do partido dos trabalhadores insatisfeitos com as mudanças ocorridas no mesmo.

não obstante a pequenez do partido, o seu candidato ganhou a simpatia, e mais que isso, a crença de muitos eleitores, em geral, jovens, universitários e interneteiros de plantão, pessoas que encontraram no cidadão que prometia mudar a cidade "pela raiz" um novo baluarte, capaz de devolver aos frequentadores de open bar a fé na transformação política, tirando das mãos do empresariado local o poder de decisões, pensando nos mais pobres, na educação, saúde, segurança, transporte e no MEIO AMBIENTE, a bola da vez.

nada contra o candidato, nada mesmo. o que me atraiu a atenção foi a movimentação de um coro apaixonado e crente de "Tô com o rasta!", uma clã esperançoso de que uma nova proposta política pudesse ter bom êxito e posteriormente fazer a política que se espera como se espera o paraíso, muito similar ao que os pais desses mesmos jovens (de muitos deles, ao menos) esperaram do pt nos anos 80, sem facebook pra mudar o avatar, mas com a mesma paixão.

pt que, para chegar ao poder, precisou mudar, precisou decepcionar, precisou aprender a operar o estado aliado às corporações privadas, aprendeu a fazer política e a fazer a barba (no caso da dilma, claro). o psol já sabe, aprendeu lá, com eles. nós também já sabemos onde isso vai parar, mas carecemos de paixões, ideologias e crenças.

eu voto porque é obrigado e porque é de graça!


~~~~eu tô com o rasta~~~~

domingo, 30 de setembro de 2012

o retorno (the return em inglês)

pessoal, estou tentando retornar, não é fácil! o interesse primário era de gravar um vídeo, adiei por semanas o processo árduo e cansativo de por as pilhas da câmera para carregar, quando, finalmente, decidi fazer, minhas portas usb queimaram "so it goes", então, que se foda, vai ser texto mesmo para provar a todos que sou parcialmente alfabetizado.

da última postagem até hoje muitas coisas ocorreram: uma monografia, um projeto pra ganhar dinheiro (ainda em fase de espera com o c* na mão), alguns shows de uma banda, muitos shows da outra, muitos sapos engolidos, umas raivas, sexo que é bom NADA, uns dvd's do pearl jam porque ninguém é de ferro, mais barriga, menos dinheiro, "so it goes".

eu pretendo voltar aqui pra falar sozinho, uma vez por semana ou quando der (sem ousadia, gente), volto pra falar deste momento bárbaro da sociedade democrática chamada processo eleitoral que te acorda nos domingos pela manhã com buzinaço, carreata, fogos de artifício, jingles parodiando todo o sertanejo universitário que você achou que não poderia piorar, "so it goes".

voltarei em breve com a temática das eleições, se deus quiser!




boa semana de trabalho pra vocês, cristãos!

sexta-feira, 29 de junho de 2012

1, II, três...


Um, dois, três: valendo!

Nunca foi tão fácil decorar meu endereço. Quase ninguém está seguro quando deve informar onde mora. Estamos seguros sobre onde moramos (espero), mas informar é sempre estranho, sempre em falso, não pensamos o nosso endereço, apenas sabemos. Sabendo-se chegar a nossa casa, está tudo bem (espero).

É como a velha desculpa de não saber o número do próprio telefone por jamais ligar pra si mesmo (atitude sempre tão normal: não ligamos pra nós mesmos, ocupados demais em ligar para a vida e telefones alheios).

Nunca foi tão fácil decorar meu endereço, pois, o número da casa é 123. Isso mesmo: cento e vinte e três; um, dois, três. É com esta última versão que me refiro ao meu endereço quando um recepcionista, atendente ou qualquer desinteressado pergunta o número da residência: “número um, dois, três”.

Tenho poucos segundos para contemplar a surpresa lúdica no olhar do outro. Se tivesse que apostar em qual o pensamento imediato do meu interlocutor, apostaria num: “que coincidência! Um, dois, três!”
Há quem diga que os números impõem uma interferência mística em nossas vidas, há quem mude de nome, quiçá de endereço por causa deles, estranho pensar que nós inventamos os números e não o contrário (espero). Para mim, são apenas números que, assim como a palavra “número”, serve, tão somente, pra representar uma ideia.

Certa vez, numa agência bancária, peguei a senha de número 666, nos longos minutos de espera, desejei intensamente para que a moça do caixa fosse evangélica, dia chato, sabe como é. A moça não era, não devia ser, talvez fosse, não sei. Ela sequer olhou o papel que entreguei entusiasmado, “apenas números” deve ter pensado, ela sequer me olhou, também, “apenas mais um número”, deve ter pensado.

Um, dois, três salve eu, salve todos, salve-se quem puder.

viva são timbum!!!!!!!!!!!!!!


Anarriê

Faltou o texto do São João, fiquei sem internet durante o feriado da festa, coisas da vida, coisas da Oi Velox. Mas havia a ideia sobre o que escrever e não quero deixar passar, porque idéias são cada vez mais raras.

Pra um nordestino como eu, é muito fácil disparar o clichê: “São João é a melhor festa do ano”, pode ser mesmo, se puder ser. Mas, quando você não vai a qualquer festa, não viaja e ainda fica sem internet é muito fácil esnobar a importância do santo.

Cheia de exuberâncias e injúrias, a festa é marcada por peculiaridades, a palavra “típica” é repetida ao ritmo dos estouros - a cada ano, mais altos e mais imbecis dos fogos. A bebida é típica, a comida é típica, a dança típica, a música típica (hey, essa já foi, ouvi mais pagode do que forró, neste ano: coisas da vida).

Lembro das festas de São João nos tempos de escola, havia uma missão particular: fugir da quadrilha, não importa quais desculpas inventar, não dançar quadrilha é uma conquista da infância da qual jamais esquecerei. Além de fugir da quadrilha – anarriê - olha a chuva – é mentira -, uma ambição era entender por que diabos, na mesa de comidas típicas, onde cada mãe deveria levar um prato, constavam laranjas e pipocas.

Havia canjica, bolo de milho, de aipim, amendoins, pamonhas (que dá um trabalho desgraçado pra fazer), licor não tinha, infelizmente (terceira série, pô!), e sempre: laranja e pipoca. Que esculhambação é essa? 

Pipoca é foda! Pipoca só é comida típica em junho em ano de copa do mundo. E laranja? Laranja é comida típica o ano todo. Porém em junho, ao invés de fazer suco, a povo chupa a fruta, porque sim.

Alguém pode me ajudar a desvendar o último mistério típico que me acompanha desde sempre nas festas de junho? “Anarriê” quer dizer que porra?


domingo, 10 de junho de 2012

chegada

antes mesmo de chegar à cidade, já sabia quem prestava e quem não. antes mesmo de chegar, já sabia de tudo que acontecia por aquelas partes do mundo - mundo de partes iguais - e tudo o que haveria de ocorrer. tavares já lhe havia adiantado tudo, lhe dissera onde deveria procurar um quarto, onde comer, onde beber, com quem falar, principalmente, com quem não falar e o que não falar. desculpem, tavares era o motorista do ônibus que o levara até ali. tavares: um bom sujeito, um sujeito qualquer.

uma placa verde gritava "bem-vindo". ele não entendeu. e ao descer naquele lugar foi olhado, mapeado, narrado pelas mentes silenciosas. nem sabia ele que todos também já o conheciam, sabiam a que viera, sabiam como ele seria, sabiam do seu futuro, sabiam exatamente quem ele poderia ser.

nunca soube como chegara até ali, é certo que não decidira por aquele lugar, apenas abriu os olhos e lá estava, sendo o que tinha que ser. talvez o sol estivesse a pino, ou talvez estivesse nublado, ou chovendo. não, chovendo não estava, ele sentiria, sentiria alguma coisa. de certo, pelo movimento de todos, era meio-dia, todos sentem fome à mesma hora. ele não estava com fome, ou talvez estivesse, de qualquer sorte, sabia que era a hora de comer, e todos comeriam.

enquanto comia - exatamente onde lhe disseram para comer -, olhava ao redor; tentava entender como tudo funcionava. lembrou do que tavares lhe contara a respeito de todos, todos o observavam, como deuses famintos esperando o átimo do juízo e da sentença. erguia os olhos volta e meia, todos estavam lá, a comida era horrível, a moça que lhe trouxera o prato-feito não, era uma moça como todas as moças de todas as partes do mundo - mundo de moças iguais -, por que se preocupavam dele? todos já sabiam o que seria. a comida era horrível, "que se foda", pensou, e continuou a comer.

a comanda, molhada pela lata de coca-cola, registrava R$ 12,00; era um preço muito alto por algo tão odiável, mas não tinha outro jeito e ele haveria de pagar.


domingo, 27 de maio de 2012

sermão de mim mesmo

Dorme, porra! Fecha o olho e dorme!

Toda noite o mesmo inferno. Presunçoso, tá achando o quê? Que cabe um mundo entre as tuas orelhas? Não, não cabe!

Apague a luz. Acenda a luz, ative o alarme do celular - como se fosse funcionar desta vez -, apague a luz e vê se dorme, deixa pra pensar no absurdo da existência amanhã, hoje se concentra em dormir, não é tão difícil, não pode ser, é tão simples pra tanta gente, gente que deita e apaga e, em 3 minutos, desliga e a realidade se mostra impotente, fecha o olho e dorme!

Encontra uma posição confortável, deixa de drama, não põe a mão em baixo da cabeça ou vai acordar com câimbras, respire devagar, você deve ser o único sujeito que sente falta de ar quando deita pra dormir, parece  uma mulher em trabalho de parto, que bizarro.

Amanhã acorda mal por ter perdido metade da noite rolando na cama, pensando no que não tem solução. Você já entendeu, cara, não tem jeito, as coisas são o que são e basta, o futuro e o presente são a sobra do inevitável e só. E você já sabe disso, você leu nos livros, e antes mesmo de abri-los já sabia o que encontraria. Não há solução, nem salvação, nem do que ser salvo, portanto, durma.

Pare de pensar e durma, pare de sofrer e durma, pare de rezar e durma, pare de viver e durma, imbecil.



não tente entender, apenas durma

domingo, 20 de maio de 2012

oe!

Eu odeio banho frio!

Sim, este é um post sobre banho:

Não foi à toa que, quando o cosmo, a natureza ou a única divindade a qual não consigo questionar: o acaso me fizeram existir após a invenção do chuveiro elétrico.

A vida já é ruim o suficiente, não preciso começar o dia tomando um banho frio! "Ah! Mas tá calor, pra que esse chuveiro no quente?!" Calor só se for pra vocês, pra mim o banheiro é sempre frio!

"Banho quente faz mal, banho quente envelhece, banho quente não sei mais o quê!" Viver envelhece e ninguém faz nada pra mudar isso, né? Eu vou narrar como é o meu banho frio:

Molho um braço, xingo a mãe da mãe natureza, molho o outro braço e xingo a mim mesmo - se eu não tivesse os braços, ou as pernas, teria menos coisas pra molhar com essa porra de água fria - molho a cabeça (a cabeça mesmo), uma perna, outra perna; isso não é um banho, gente, isso é um processo de auto-flagelo, quando finalmente ponho o corpo inteiro embaixo da água, é uma falta de ar do cão. Um desconforto terrível. Por que alguém se presta a isso voluntariamente?

Quando, porém, tomo banho quente, é assim: Entro, tomo banho, saio cheiroso e lindo, obrigado!

Uma vez fiquei na casa de um pessoal que tem muita grana, mas na casa não tinha chuveiro quente, porque diziam que banho frio é bom, dá coragem, que deixa a pessoa mais forte de saúde! Na minha opinião ou você é rico, ou você toma banho frio, que putaria é essa? Que adianta ter carro importado e morar em bairro nobre se tu tomas banho frio? Muita excentricidade, na moral!

Oração: por um mundo onde os resistores de chuveiro nunca queimem! Obrigada e Amém!

domingo, 13 de maio de 2012

tem razão!

A gente vive criando qualquer coisa pra se sentir especial!

Observando meu pai, sempre notei como ele minimizava todos os feitos dos outros, mas, ao contrário, superestimava as próprias ações. como um bom filho idiota, julgava isso com todos os crivos cruéis de um bom imbecil, só não conseguia ver que todos agiam assim, eu também, claro.

Exemplos rápidos: a banda que faz cover se acha melhor porque consegue tocar igualzinho a banda famosa que é muito boa, e fazer cover "é difícil pacarái"; a banda que sustenta um projeto autoral diz que cover é cópia, foda mesmo é fazer o próprio som, a própria música (mesmo que façam isso igual a todas as outras).

Quem sabe tocar diz que a música é a maior das artes, quem sabe escrever defende seu lado, quem sabe arrancar dente também, quem é bom de cama propaga, quem não é diz que é, essas coisas, tá todo mundo dizendo que é bom em algo, que é especial por alguma coisa.

Quem fala inglês, quem sabe formatar um pc, quem prefere o arroz em cima do feijão, quem conhece a banda que ninguém conhece, não conhece a que todo mundo conhece, torce pro bangu, pro vasco, pra qualquer empresa, professa qualquer fé, não professa fé alguma. Todos se vêem rebeldes, singulares, creem pensar de maneira única, pensam ser especiais.

Acreditam que estão cheios de razão e conscientes do seu lugar no mundo, só esquecem que não suportam os que são de fato - mas, não por escolha - como eles pregam ser, destes, eles querem distância; covardemente, passam para o outro lado da rua, do ônibus, do mundo. Pois, estes são sujos, fedem, falam nada com nada, vagabundos, esquisitões, vadios, insensatos, caminham pelo mundo sem rumo, os vejo sob sol e sob chuva sempre caminhando sem metas, alucinados.

Não os queremos perto, até criamos campos de concentração para que saiam do meio de nós, pessoas de bem. Não que sejam piores que nós, não. Somos todos iguais perante deus, perante a lei, perante qualquer coisa que nos seja conveniente. Apenas que fiquem longe, que não pisem os mesmos espaços que eu, que não respirem o mesmo ar que eu, que não comprometam a segurança do nosso mundo lógico, sensato e sem sentido das oito às dezessete. Não porque nós os rejeitemos, longe de nós rejeitar alguém, mas eles são especiais demais: eles são loucos.


"todos anormais, todos desqualificados, castrados, desajustados, considerados um problema"

terça-feira, 8 de maio de 2012

Tia Rosa

Eu tenho uma tia chamada Rosa, Rosalina, mas é Rosa que a gente chama. Por si só, esta informação já bastaria pra apontar indícios sobre o meu lugar, minha "cultura" e minha identidade. Sou sertanejo, ou quase, mais ou menos,  vai! Não me peça pra selar um cavalo, ordenhar uma vaca, já me queimei em cansanção e até hoje não sei bem como reconhecer um, mas sou sertanejo, devo ser, sertanejo como muitos por aí, calça jeans, blusa de botão, pegando ônibus, desses que têm uma tia chamada Rosa.

Ter uma tia chamada Rosa é o mínimo que um sertanejo de péssima montaria pode gozar. No centro de qualquer lugar há de haver um sujeito lamentando a seca, numa sala com ar-condicionado, dentro de um corolla, bebendo cerveja num bar qualquer, seja pela vala comum da pena e da caridade fajutas, seja pelo preço do kg de feijão nos supermercados com suas promoções imbatíveis. Há de haver, em lugar nenhum, um poeta compondo a cena de uma Rosa que insiste em vingar na terra, que quando seca, só suporta o mandacaru e o xique-xique. Há quem lamente a seca, como se lamenta qualquer coisa. E há quem padeça da seca e da indiferença de quem lamenta qualquer coisa.

Por que resolvi falar disso? Vontade, ué! Vontade que virou demanda após ouvir a queixa de um sujeito ao ver uma moça da capital lamentar a seca no sertão baiano e nordestino. "Seco onde? Lá em Salvador é?". Como se não fosse direito do outro lamentar a dor de tantos, como se o "povo da capital" não tivesse uma história, memória e identidades que rumassem pro sertão, como se não tivessem, também eles, uma tia chamada Rosa. Não queremos que  o outro sinta a nossa dor, a nossa sede. "Fiquem longe, essa é a nossa dor, a nossa sede, só nossa. Prefiro morrer de sede a aceitar sua cuia d'água. Porque o sertanejo é um povo forte e orgulhoso".

Orgulho é o caralho, vosmicê perdoe os termos, tem gente morrendo de sede e fome, porra!

Meu quadro imaginário do sertão é um zumbi voltando pra casa, ao longo do asfalto, com a farda da farmácia silva.

O meu sertão é cinza.

domingo, 6 de maio de 2012

sentidos

Você sabe que há algo de errado na vida quando acorda!


eles negam que sabem
mas sabem

eles sentem o cheiro podre das flores
vislumbram aquela cor horrível do pôr-do-sol
fingem perceber diferença nas fases da lua
odeiam o azul do céu e o rebentar das ondas

eles travam os dentes para suportar a música
sentem nojo do que chamam de afeto
acham a caridade cafona e desnecessária
contemplam a mesmice das estrelas
e se enraivecem do perdão e da paz

eles sabem que negam,
mas negam


não há sentidos, não há.

domingo, 22 de abril de 2012

e as novidades?

"e as novidades?" é a porta de entrada das conversas dentro e fora da web. pra falar a verdade, sei pouco sobre conversas fora da web, com os poucos com quem converso, sem a proteção da tela, pulamos estes clichês. (eu disse proteção?)

há tempos não tenho novidades. por isso o blog tá meio morto. tá bom, o blog tá morto, tá morto mas é meu! é foda isso de não perceber o novo repetido acontecendo, pode falar "foda" aqui? pode sim, o blog é meu! 

sinto prazer em lavar as mãos, sério! mas, isso não é coisa pra se contar aqui, ou em qualquer lugar. meus prazeres são bobos; bobos, porém meus, e isso me basta. não, não basta. nada basta. aprendemos que o bastante é muito pouco, "você pode mais", deve querer mais, querer até explodir, até descobrir que não precisa, mas já será muito tarde.

já pensou? "e as novidades? algo de bom?" - lavei as mãos! =^.^= melhor não, né? né! lavar as mãos é um gesto simbólico, graças ao cristianismo, pra mim é um prazer, pra pilatos pode ter sido também, vai saber! "calor, mãos sujas, manda esse jesus esperar, deixa eu lavar as mãos primeiro. ah! agora sim! quais as novas?"

e vocês, quais as novidades? comenta aí!

domingo, 8 de abril de 2012

azar em grande escala

a maior prova do meu azar é sem dúvida ter nascido. azar e pura falta de bom-senso da natureza.

minha vida é marcada por grandes momentos em que eu me ferro todo de conspiração negativa do cosmo e se, para muitos, a  Lei de Murphy é casual, pra mim, é pontual, pontual e cotidiana.

depois de meses analisando as condiçõe$$$$$$$ para fazer uma compra, cujo valor, para mim, é alto e me deixaria mais pobre, resolvi investir mesmo com o cu na mão um pouco de receio, dois dias após efetuar o pagamento, tentando não pensar na falta que esse dinheiro me fará quando meus pais me chutarem de casa e eu for morar na rua sem ter o que comer (nas minhas previsões isso acontecerá no final deste ano, ou no início do próximo se o mundo não acabar), como dizia, dois dias depois de pagar o treco, me assaltam e levam meu celular, ÊTA CARÁI, FUUUUUU! NÃO TENHO DINERO.

vai lá e gasta as últimas nicas (ainda pode falar nica?) pra comprar o celular mais barato que acha, aí volta pra casa chorando e vai tomar banho derruba os óculos e quebra. essa é minha vida, esse é meu mundo! (patrocina aí, nextel)

a semana de azar ter sido a mesma semana santa deve ter sido mera coincidência, eu espero!

vc sabe que tem algo errado quando você é do tipo de gente que tá passando na rua e a luz do poste apaga! 

o pior  é que eu gosto de como percebo o mundo.

Passa o celular!

Os amigos já sabem, fui assaltado! 2 amigos estavam comigo, mas só eu fui assaltado, "coisas da vida" como diria Vonnegut.

Fui assaltado mais de 10 vezes durante a minha vida, quase todas em Aracaju, apenas 3 aqui em Feira, 3 ou 4, tanto faz, não importa o sotaque, é o mesmo texto: "passa o dinheiro, passa o celular!".

Eu disse que não tinha dinheiro, até diria que não tinha celular (que mentira, todo mundo tem celular!) mas 10 segundos antes do menino chegar com a arma na mão eu havia tirado o celular do bolso para olhar as horas, alguém me disse que relógios evitam assaltos.

Sim, era um menino, um menino que ao contrário de mim, provavelmente, nunca teve um vídeo-game, talvez a maior diferença entre nós seja esta. Um menino, e um menino com farda de escola, sim. Não sei se não houve aula, não sei. O que sei é que no meu tempo, matava aula pra jogar bola, pra assaltar, não! (não que eu me lembre)

O que mais ouvi, além do discurso absurdo dos pais, que sempre sucedem aos assaltos ou acidentes, foi o "esses miseráveis merecem morrer" ou coisa equivalente. Não concordo, acho que quem merece morrer já está morto, um dia também mereceremos, todos nós, menos a Hebe Camargo e o Sílvio Santos, assim como quem está vivo merece estar!

Pra acreditar em mérito, teria que acreditar em justiça e em outras coisas que não consigo! Além do mais, não espero muito mais que violência do mundo em que vivo, ele é insustentável, o modelo é cruel, é violento, respostas violentas me soam com muita naturalidade - não sei se posso falar em natureza - não conhecemos a natureza, só conhecemos a cultura.

Ao fim de tudo: "Tanto Faz!"

quinta-feira, 8 de março de 2012

ela

Um outdoor lhe fez lembrar a comemoração deste dia, sem perceber, agradeceu ao deus no qual já não acreditava há tanto tempo por não ter checado a caixa de e-mails e ter esquecido o telefone celular em cima da mesinha no canto do quarto; há essa hora, quantas mensagens inúteis e melosas ela já teria recebido?
Reclamou do barulho das pessoas no ônibus, reclamou do barulho do ônibus.
Pensou que deveria estar feliz, talvez recebesse um buquê neste dia. Um buquê. Talvez do imbecil do chefe, ou de outro imbecil qualquer. Tentou capturar no olhar das outras algo que impusesse importância a este dia, mas encontrou apenas o próprio cansaço.
Fazia pouco caso da luta, ainda menos da história, “porra de direitos iguais!” dizia entre dentes, não que vivesse em busca de homem que lhe abrisse a porta do carro, que a levasse para jantar, pagasse a conta do motel, ajudasse a fechar o sutiã depois da foda, levantasse a tampa do vaso ou outros cavalheirismos, não sonhava em se casar, há tempos nem sonhava mais, não pensava em filhos, até tentou ter um cachorro, mas não deu muito certo: ela falava com ele, mas ele jamais lhe respondia. “Tem nada direito e só isso é igual”, bufava!
Pensava que seria indiferente caso fosse homem, estaria calor do mesmo jeito, pegaria o mesmo ônibus para o trabalho - o trabalho é sempre igual - talvez ninguém se esfregasse em seu corpo como, volta e meia, algum babaca fazia, talvez, sendo homem, fosse ela mesma a esfregar o pinto em alguma gostosa.
Pensou em ligar pra sua mãe e para a irmã a fim de dar-lhes os parabéns, faria isso assim que chegasse em casa. Lembrou do aluguel atrasado, das contas atrasadas, da vizinha velha e do seu rádio velho, “desgraçada!”.
Desceu do ônibus, entrou no escritório, foi até sua mesa, onde já lhe aguardavam um cartão e um buquê.
Cheirou as flores. Gostou. Não leu o cartão. Apenas riu e pensou: “que se foda!”


quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

pior é na feira de santana...

Boa tarde/noite/manhã, meu Brazil!

Sim, o assunto é mais ou menos a greve da polícia militar da bahia. Digo mais ou menos, pois, não pretendo defender o lado de ninguém, nem reproduzir o papinho do sou contra, sou a favor da greve, a minha agonia é outra, e sim, este blog é sobre o que me incomoda, basicamente, minha agonia é que a gente não consegue passar um dia sem alguém pra nos prender em caso de estupidez além da conta.

Não gosto de polícia e nunca tentei esconder isso, minha mãe diz que quando criança, ao invés de loucos, médicos, ou mortos, eu tinha medo de policiais (piadinhas liberadas. não, não sou corintiano); como minha grande sorte me acompanha desde sempre, fomos morar em um prédio e bem em frente morava o delegado de aracaju, segundo minha mãe, cada dia era uma novela, eu só saía de casa depois que o delegado tivesse partido pro seu trabalho.

Fodam-se os motivos tortuosos de uma greve, sabemos bem, é aumento salarial. "Não é só isso, são melhores condições de trabalho e blá blá blá", uma porra, não sou menino! O que me assombra é a dependência, a polícia, o estado, a escola, eu, você, a cerveja no bar, a internet banda larga, o futebol, a arte, tudo compõe este círculo maldito/bendito chamado vida em sociedade, e quando digo dependência é dependência mesmo, dependemos de um algoz, de uma censura, de armas, algemas, radares, câmeras, porque não sabemos exercer o mínimo de liberdade sem fazer um monte de merda!

"Mar péra aí que eu não saí por aí robano nem matano, não!" Não saiu porque não precisou, ou não teve coragem! Quando digo nós, não tô falando da classe média que tá lendo esta porra, tô falando de nós enquanto espécie. Basta sabermos que não estamos sendo vigiados e reprimidos que logo atentamos contra os outros e a nós mesmos. 

"Ah como é que a gente vai ficar sem polícia? Quem vai nos proteger? " 


Porra, eu sei que é idealismo, que beira a utopia, que crime e maldade sempre existiram "sempre existirão", mas o nível é tão baixo assim? Um dia sem gente fardada e armada te olhando de cima pra baixo e você se sente tão imortal e superior a ponto de sair por aí pintando a miséria? Sim, é isso que somos. E é pra isso que fomos adestrados, adestrados sim, educados uma ova. Nossa educação só serve se tiver um guardinha por esquina.







A gente não sabe caminhar no próprio bairro sem uma coleira que já tenta morder alguém ou cagar na porta do vizinho!