Há tempos atrás, um bom tempo, me parece, mas pode ter sido ontem pela manhã (quem me conhece, ao menos um pouco, sabe bem que tempo não é comigo), quando eu era um adolescente, o tédio era seguido por um tipo de energia que me empurrava a fazer alguma coisa.
Alguns chamam a isso de inspiração, angústia criativa. Não lembro de, nesta curta existência (longa de mais, porém), ter acreditado em inspiração. Prefiro tratar por vontade, vontade de qualquer coisa, de sobreviver matando o tédio. Tudo que fiz começou na vontade de fazer, de bom ou de ruim, não vou tentar lembrar algo bom agora, chega de frustração por hoje! Vontade, alguém quer, vai lá e faz, e pimba.
Estranho é que há tempos não quero nada, não quero fazer. Acho que me acostumei com o mundo pronto, os seres prontos, verdades prontas, modelos prontos, sorrisos prontos, arte pronta, vida pronta, morte pronta. Deem-me pronto, tudo pronto.
Hoje, senti novamente aquela agonia típica da adolescência que pede um exorcismo, fosse que fosse um poema, uma letra de música, uma reza pronta ao deus pronto, sempre pronto para ignorar, meia dúzia de acordes, fosse o que fosse pra matar o tédio e simular sentido no que não concentra sentido algum.
Não fiz uma canção, nem letra para uma canção, nem peguei o violão, sequer escrevo a fim de matar meus demônios, escrevo para dizer que eles venceram e que a noite será imensa, mas que tanto faz, vou comer o que tem pra hoje.
Às canções que estão no éter ou sob gordura e lodo deixados nas cordas da guitarra à espera de forma: apareçam quando quiserem, se quiserem. Se podem escolher, não saiam de lá, tratarei vocês como um pai trata um filho, com injustiça e severidade, jamais confiarei em vossa importância ou capacidade, surrarei cada nota com minha voz triste, cheia de médio e desafinada.
p.s: se alguém souber o que é que eu tô fazendo aqui, me manda um e-mail contando!
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