Ter uma tia chamada Rosa é o mínimo que um sertanejo de péssima montaria pode gozar. No centro de qualquer lugar há de haver um sujeito lamentando a seca, numa sala com ar-condicionado, dentro de um corolla, bebendo cerveja num bar qualquer, seja pela vala comum da pena e da caridade fajutas, seja pelo preço do kg de feijão nos supermercados com suas promoções imbatíveis. Há de haver, em lugar nenhum, um poeta compondo a cena de uma Rosa que insiste em vingar na terra, que quando seca, só suporta o mandacaru e o xique-xique. Há quem lamente a seca, como se lamenta qualquer coisa. E há quem padeça da seca e da indiferença de quem lamenta qualquer coisa.
Por que resolvi falar disso? Vontade, ué! Vontade que virou demanda após ouvir a queixa de um sujeito ao ver uma moça da capital lamentar a seca no sertão baiano e nordestino. "Seco onde? Lá em Salvador é?". Como se não fosse direito do outro lamentar a dor de tantos, como se o "povo da capital" não tivesse uma história, memória e identidades que rumassem pro sertão, como se não tivessem, também eles, uma tia chamada Rosa. Não queremos que o outro sinta a nossa dor, a nossa sede. "Fiquem longe, essa é a nossa dor, a nossa sede, só nossa. Prefiro morrer de sede a aceitar sua cuia d'água. Porque o sertanejo é um povo forte e orgulhoso".
Orgulho é o caralho, vosmicê perdoe os termos, tem gente morrendo de sede e fome, porra!
Meu quadro imaginário do sertão é um zumbi voltando pra casa, ao longo do asfalto, com a farda da farmácia silva.
O meu sertão é cinza.
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