domingo, 10 de junho de 2012

chegada

antes mesmo de chegar à cidade, já sabia quem prestava e quem não. antes mesmo de chegar, já sabia de tudo que acontecia por aquelas partes do mundo - mundo de partes iguais - e tudo o que haveria de ocorrer. tavares já lhe havia adiantado tudo, lhe dissera onde deveria procurar um quarto, onde comer, onde beber, com quem falar, principalmente, com quem não falar e o que não falar. desculpem, tavares era o motorista do ônibus que o levara até ali. tavares: um bom sujeito, um sujeito qualquer.

uma placa verde gritava "bem-vindo". ele não entendeu. e ao descer naquele lugar foi olhado, mapeado, narrado pelas mentes silenciosas. nem sabia ele que todos também já o conheciam, sabiam a que viera, sabiam como ele seria, sabiam do seu futuro, sabiam exatamente quem ele poderia ser.

nunca soube como chegara até ali, é certo que não decidira por aquele lugar, apenas abriu os olhos e lá estava, sendo o que tinha que ser. talvez o sol estivesse a pino, ou talvez estivesse nublado, ou chovendo. não, chovendo não estava, ele sentiria, sentiria alguma coisa. de certo, pelo movimento de todos, era meio-dia, todos sentem fome à mesma hora. ele não estava com fome, ou talvez estivesse, de qualquer sorte, sabia que era a hora de comer, e todos comeriam.

enquanto comia - exatamente onde lhe disseram para comer -, olhava ao redor; tentava entender como tudo funcionava. lembrou do que tavares lhe contara a respeito de todos, todos o observavam, como deuses famintos esperando o átimo do juízo e da sentença. erguia os olhos volta e meia, todos estavam lá, a comida era horrível, a moça que lhe trouxera o prato-feito não, era uma moça como todas as moças de todas as partes do mundo - mundo de moças iguais -, por que se preocupavam dele? todos já sabiam o que seria. a comida era horrível, "que se foda", pensou, e continuou a comer.

a comanda, molhada pela lata de coca-cola, registrava R$ 12,00; era um preço muito alto por algo tão odiável, mas não tinha outro jeito e ele haveria de pagar.


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