sábado, 5 de fevereiro de 2011

"marginal é o cara aí ó!"

O trocadilho não é dos melhores, eu sei! Mas a prosódia feirense ainda promove grandes momentos...

Acho sempre engraçado quando alguém se refere a um criminoso, usuário de drogas, pedinte ( na dúvida entre mendigo/mendingo ... brincadeira, pessoal, eu sei que é mindingo!); como "marginal", aquele que está à margem da sociedade... etc!

Por dois motivos, o primeiro é que, a violência que geralmente o falante tenta empregar é bem maior do que o termo tão gasto consegue deferir, não admitimos um marginal que esteja ao nosso nível, a margem do rio não está ao lado do rio? Geralmente, nivelada ao rio? 

Esse é o lugar da margem. E ninguém que está habituado a usar o termo "um marginal" admite que o bródinho fumando crack na praça do fórum, nem o moleque que bota um cano na sua cara pra tomar um relógio que custou cinco reais no feiraguai, ou que, de punhal na mão, manda tirar o nike chinês e vazar, é alguém do seu, do nosso,  "nível", né não? Sempre os vemos abaixo de nós, não na nossa margem, nós cidadãos de bem, somos o rio, fedorento, poluído, às vezes seco, mas que ainda é o cartão postal dessa cidadezinha chamada vida.

O texto tá sério né?! Vixe!

O outro motivo é geográfico mesmo, alguém aí conhece uma sociedade em que o marginal não esteja presente? "marginal é o cara aí ó!" O cara tá dentro, o cara é o peixe.

Isso me faz rir: "um marginal atacou uma casa..." Marginal? O cara tá tão dentro quanto eu e você, desde que estamos aqui, antes mesmo de chegarmos aqui, ele já estava, ele sou eu menos hipócrita e mais faminto, ele sou eu desempregado com dois filhos para dar de comer, ele sou eu de guarda baixa, ele sou eu com menos sorte. O cara nunca esteve à margem da sociedade ele está inserido nela, deram esse lugar de destaque nas páginas policiais para ele, sem ao menos perguntar se era isso que ele queria.

O legal do termo em questão é que, ao mesmo tempo que este rejeita, acaba por acolher, dizer pro cara que ele está à margem, é dizer que é bastante para ele se deslocar, ele não precisa subir, nem descer, nem nada, é só sair da margem e vir pro rio, sair da calçada e vir pra rua, pro centro. Nós o vemos, fingimos não vê-lo; ele nos vê e não finge nada, estamos no mesmo plano... "Estamos no mesmo barco, e ele ainda flutua!"

 Não tô fazendo apologia ao banditismo, só faço apologia ao uso de heinekens, já não é segredo pra ninguém, só tô dizendo o que queria dizer!

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