sem abrir os olhos conseguiu alcançar o celular e desligar a porra do alarme. como poderia imaginar que havia chegado o dia de sua morte?
acordou puto! sempre acordava puto. segunda-feira. 15 pras 6:00. precisava correr.
na sexta passada perdeu o ônibus e tudo foi pior que sempre, atrasou 15 minutos e o filho da puta do chefe o olhou como se ele fosse indigno de ganhar aquela bosta de salário. salário de merda, chefe filho da puta de merda!
se suspeitasse que aquele era seu último dia de vida jamais teria ido trabalhar. se ele soubesse... se a gente soubesse...
talvez até fosse trabalhar, mas teria comido algo antes de sair, foda-se o atraso. talvez comprasse uma arma e matasse todo mundo na firma. teria pensado isso se soubesse que estava prestes a não existir. com certeza riria com esse pensamento, sempre ria quando pensava em matar alguém.
lembrou que deveria ligar pra mãe. esqueceu.
a porra do ônibus que não passa. (bom dia - bom dia. boa semana pra você - pra você também.) cadê a porra do ônibus que não chega? (bom dia - bom dia!).
o motorista acelerava rumo ao fim do expediente, acelerava pra caralho, 15 pras 7:00. Os corpos se chocavam, espremiam as almas que despertavam lentamente, algumas almas desciam arrastadas por corpos apressados. outras subiam, e se apertavam.
finalmente, sentou-se ao lado de uma velha. ela disse "bom dia", ele disse "bom dia".
tinha vivido 27 anos, o que pode parecer pouco para alguns, mas que pode parecer muito para outros. para ele não parecia nada, mas ele nem imaginava que iria morrer minutos depois, não teria porque pensar nisso. como seria se soubesse? como seria se soubéssemos?
o ônibus esvaziou. ele ouviu uma sirene. não se importou. o ônibus parou. que inferno! um barulho muito forte e o vidro partiu. sentiu dor. a última coisa que escutou foi o grito da velha: "meu deus!"
"a vida quando acaba cabe em qualquer lugar"
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