ela estava pensando em mudar alguma coisa. "qualquer coisa", dizia. menos o cabelo, ela sempre mudava algo no cabelo, mas isso mudava pouca coisa, quase nada. mas ela queria mudar alguma coisa. "precisava mudar", ela dizia.
viveu sempre no mesmo lugar. um lugar desses bem longe de tudo em que nada acontece, achava que deveria ir pra outro canto, um desses centros repletos de pessoas, onde de tudo se encontra. achava que ali onde nascera, nada poderia fazer. ela precisava sair, precisava mudar.
mas tudo isso parecia tão longe. onde iria viver? sem trabalho certo, onde iria morar? o que comeria? e a família? amigos? teria que começar tudo de novo, isso parecia muito e muito longe.
fez as contas: não havia nada a perder além daquele tudo que era tão pouco. haveria outro tudo em outro lugar. há um tudo em toda parte. outro trampo, outro cara, outros caras, muitos caras. era uma conta muito alta.
ela precisava mesmo mudar, estava morrendo aqui. mas, sonhava viver e morrer em outro lugar.
chegou o dia em que a necessidade de mudança se tornou questão de vida ou morte, ela já não podia mais esperar. entrou em casa correndo, aproveitando da ausência de todos e do raro silêncio, apagou as luzes; e na adrenalina do momento, imaginou um reggae. e dançou.
"adrenalina é uma menina dormindo, dançando no silêncio, imaginando um reggae"
(Esportes Radicais - HG)