domingo, 27 de maio de 2012

sermão de mim mesmo

Dorme, porra! Fecha o olho e dorme!

Toda noite o mesmo inferno. Presunçoso, tá achando o quê? Que cabe um mundo entre as tuas orelhas? Não, não cabe!

Apague a luz. Acenda a luz, ative o alarme do celular - como se fosse funcionar desta vez -, apague a luz e vê se dorme, deixa pra pensar no absurdo da existência amanhã, hoje se concentra em dormir, não é tão difícil, não pode ser, é tão simples pra tanta gente, gente que deita e apaga e, em 3 minutos, desliga e a realidade se mostra impotente, fecha o olho e dorme!

Encontra uma posição confortável, deixa de drama, não põe a mão em baixo da cabeça ou vai acordar com câimbras, respire devagar, você deve ser o único sujeito que sente falta de ar quando deita pra dormir, parece  uma mulher em trabalho de parto, que bizarro.

Amanhã acorda mal por ter perdido metade da noite rolando na cama, pensando no que não tem solução. Você já entendeu, cara, não tem jeito, as coisas são o que são e basta, o futuro e o presente são a sobra do inevitável e só. E você já sabe disso, você leu nos livros, e antes mesmo de abri-los já sabia o que encontraria. Não há solução, nem salvação, nem do que ser salvo, portanto, durma.

Pare de pensar e durma, pare de sofrer e durma, pare de rezar e durma, pare de viver e durma, imbecil.



não tente entender, apenas durma

domingo, 20 de maio de 2012

oe!

Eu odeio banho frio!

Sim, este é um post sobre banho:

Não foi à toa que, quando o cosmo, a natureza ou a única divindade a qual não consigo questionar: o acaso me fizeram existir após a invenção do chuveiro elétrico.

A vida já é ruim o suficiente, não preciso começar o dia tomando um banho frio! "Ah! Mas tá calor, pra que esse chuveiro no quente?!" Calor só se for pra vocês, pra mim o banheiro é sempre frio!

"Banho quente faz mal, banho quente envelhece, banho quente não sei mais o quê!" Viver envelhece e ninguém faz nada pra mudar isso, né? Eu vou narrar como é o meu banho frio:

Molho um braço, xingo a mãe da mãe natureza, molho o outro braço e xingo a mim mesmo - se eu não tivesse os braços, ou as pernas, teria menos coisas pra molhar com essa porra de água fria - molho a cabeça (a cabeça mesmo), uma perna, outra perna; isso não é um banho, gente, isso é um processo de auto-flagelo, quando finalmente ponho o corpo inteiro embaixo da água, é uma falta de ar do cão. Um desconforto terrível. Por que alguém se presta a isso voluntariamente?

Quando, porém, tomo banho quente, é assim: Entro, tomo banho, saio cheiroso e lindo, obrigado!

Uma vez fiquei na casa de um pessoal que tem muita grana, mas na casa não tinha chuveiro quente, porque diziam que banho frio é bom, dá coragem, que deixa a pessoa mais forte de saúde! Na minha opinião ou você é rico, ou você toma banho frio, que putaria é essa? Que adianta ter carro importado e morar em bairro nobre se tu tomas banho frio? Muita excentricidade, na moral!

Oração: por um mundo onde os resistores de chuveiro nunca queimem! Obrigada e Amém!

domingo, 13 de maio de 2012

tem razão!

A gente vive criando qualquer coisa pra se sentir especial!

Observando meu pai, sempre notei como ele minimizava todos os feitos dos outros, mas, ao contrário, superestimava as próprias ações. como um bom filho idiota, julgava isso com todos os crivos cruéis de um bom imbecil, só não conseguia ver que todos agiam assim, eu também, claro.

Exemplos rápidos: a banda que faz cover se acha melhor porque consegue tocar igualzinho a banda famosa que é muito boa, e fazer cover "é difícil pacarái"; a banda que sustenta um projeto autoral diz que cover é cópia, foda mesmo é fazer o próprio som, a própria música (mesmo que façam isso igual a todas as outras).

Quem sabe tocar diz que a música é a maior das artes, quem sabe escrever defende seu lado, quem sabe arrancar dente também, quem é bom de cama propaga, quem não é diz que é, essas coisas, tá todo mundo dizendo que é bom em algo, que é especial por alguma coisa.

Quem fala inglês, quem sabe formatar um pc, quem prefere o arroz em cima do feijão, quem conhece a banda que ninguém conhece, não conhece a que todo mundo conhece, torce pro bangu, pro vasco, pra qualquer empresa, professa qualquer fé, não professa fé alguma. Todos se vêem rebeldes, singulares, creem pensar de maneira única, pensam ser especiais.

Acreditam que estão cheios de razão e conscientes do seu lugar no mundo, só esquecem que não suportam os que são de fato - mas, não por escolha - como eles pregam ser, destes, eles querem distância; covardemente, passam para o outro lado da rua, do ônibus, do mundo. Pois, estes são sujos, fedem, falam nada com nada, vagabundos, esquisitões, vadios, insensatos, caminham pelo mundo sem rumo, os vejo sob sol e sob chuva sempre caminhando sem metas, alucinados.

Não os queremos perto, até criamos campos de concentração para que saiam do meio de nós, pessoas de bem. Não que sejam piores que nós, não. Somos todos iguais perante deus, perante a lei, perante qualquer coisa que nos seja conveniente. Apenas que fiquem longe, que não pisem os mesmos espaços que eu, que não respirem o mesmo ar que eu, que não comprometam a segurança do nosso mundo lógico, sensato e sem sentido das oito às dezessete. Não porque nós os rejeitemos, longe de nós rejeitar alguém, mas eles são especiais demais: eles são loucos.


"todos anormais, todos desqualificados, castrados, desajustados, considerados um problema"

terça-feira, 8 de maio de 2012

Tia Rosa

Eu tenho uma tia chamada Rosa, Rosalina, mas é Rosa que a gente chama. Por si só, esta informação já bastaria pra apontar indícios sobre o meu lugar, minha "cultura" e minha identidade. Sou sertanejo, ou quase, mais ou menos,  vai! Não me peça pra selar um cavalo, ordenhar uma vaca, já me queimei em cansanção e até hoje não sei bem como reconhecer um, mas sou sertanejo, devo ser, sertanejo como muitos por aí, calça jeans, blusa de botão, pegando ônibus, desses que têm uma tia chamada Rosa.

Ter uma tia chamada Rosa é o mínimo que um sertanejo de péssima montaria pode gozar. No centro de qualquer lugar há de haver um sujeito lamentando a seca, numa sala com ar-condicionado, dentro de um corolla, bebendo cerveja num bar qualquer, seja pela vala comum da pena e da caridade fajutas, seja pelo preço do kg de feijão nos supermercados com suas promoções imbatíveis. Há de haver, em lugar nenhum, um poeta compondo a cena de uma Rosa que insiste em vingar na terra, que quando seca, só suporta o mandacaru e o xique-xique. Há quem lamente a seca, como se lamenta qualquer coisa. E há quem padeça da seca e da indiferença de quem lamenta qualquer coisa.

Por que resolvi falar disso? Vontade, ué! Vontade que virou demanda após ouvir a queixa de um sujeito ao ver uma moça da capital lamentar a seca no sertão baiano e nordestino. "Seco onde? Lá em Salvador é?". Como se não fosse direito do outro lamentar a dor de tantos, como se o "povo da capital" não tivesse uma história, memória e identidades que rumassem pro sertão, como se não tivessem, também eles, uma tia chamada Rosa. Não queremos que  o outro sinta a nossa dor, a nossa sede. "Fiquem longe, essa é a nossa dor, a nossa sede, só nossa. Prefiro morrer de sede a aceitar sua cuia d'água. Porque o sertanejo é um povo forte e orgulhoso".

Orgulho é o caralho, vosmicê perdoe os termos, tem gente morrendo de sede e fome, porra!

Meu quadro imaginário do sertão é um zumbi voltando pra casa, ao longo do asfalto, com a farda da farmácia silva.

O meu sertão é cinza.

domingo, 6 de maio de 2012

sentidos

Você sabe que há algo de errado na vida quando acorda!


eles negam que sabem
mas sabem

eles sentem o cheiro podre das flores
vislumbram aquela cor horrível do pôr-do-sol
fingem perceber diferença nas fases da lua
odeiam o azul do céu e o rebentar das ondas

eles travam os dentes para suportar a música
sentem nojo do que chamam de afeto
acham a caridade cafona e desnecessária
contemplam a mesmice das estrelas
e se enraivecem do perdão e da paz

eles sabem que negam,
mas negam


não há sentidos, não há.