ele não sabia que era possível se arrepender por ter feito a coisa certa!
é um puta clichê dizer que só se arrepende do que não fez, parece bobagem, coisa que se diz da boca pra fora, mas acontece. a gente se arrepende de muita coisa que já fez também. normal desejar que o tempo volte pra tomar outra decisão, mesmo sabendo que, voltando o tempo, não saberíamos o que sabemos agora, faríamos a mesma merda, aposto.
mas ele não sabia que se arrependeria de ter feito a coisa certa. tava acostumado a perder, a escolher o que achava certo, tomar no cu, mas se confortar por não ter traído a si mesmo, como diz a música do yuka: "saber perder alguma coisa pra sobreviver!". se era mesmo a coisa certa, assumia o prejuízo e seguia, já havia perdido outras vezes e seguia sem maiores ressentimentos, dessa vez não.
ele não podia saber o que tinha dado errado, o que tinha saído do controle. parece que com a idade muita coisa se transformava mesmo, apesar de não mudar porra nenhuma. sempre achou que estivesse no controle e que se conhecesse muito bem, agora tudo estava movediço. já fazia algum tempo que tudo estava movediço, mas seguia convicto de que fazer o certo era a melhor saída, era o jeito mais fácil de continuar respirando, dessa vez errou feio, errou rude.
a crise não era saber se havia ou não decidido a coisa certa, ele sabia, era o certo. ele tava fudido é porque, pela primeira vez, ter feito a coisa certa (certa o quê, carái?) gerou arrependimento, vontade de voltar, desligar a porra da razão. teria se arrependido se tivesse feito o outro caminho? talvez. mas nem fudendo seria um arrependimento maior do que esse de agora. o gosto amargo na boca de uma vontade que não passa, de uma vontade não realizada.
"foi a coisa certa" repetia para si mesmo, tentando se convencer e se consolar. "você é muito burro", repetia para si mesmo, tentando se punir e se consertar!
às vezes, fazer a coisa certa é a coisa mais errada que alguém pode fazer! mas cada um faz o que pode! ele sabia disso, sabia que se havia feito, é porque aquilo ali era ele, aquele exato desequilíbrio entre força e fraqueza que cada um tenta inutilmente administrar.
arrependimento é gosto ruim na boca. gosto que pra sair demora!
"se soubesse antes o que sei agora... erraria tudo exatamente igual!"
(pq sou burro)
(pq sou burro)