Gosto de fotografia, sempre gostei. Sempre achei curiosa a ideia do registro, a ilusão da anacronia, a captação do que não vai se repetir jamais, e a ilusão da sincronia, de, na organização das fotos, recontar uma história, das roupas, lugares, rugas, pessoas, das próprias fotos, inception, um espelho virado pra outro espelho!
Através das fotos vi meu pai de bigode, rayban e calça boca de sino.
Nunca gostei de fotografar pessoas, nunca me interessou, não lembro de pessoas que sejam reais ao serem fotografadas, estranho; parece que ao sabermos ser olhados, mirados, nos desfazemos. Ainda pior é ser registrado, fotografado. Há uma cobrança. - Você tem que sair bem na foto. Sorria! - Mas eu não quero sorrir! - Diga "xis"!
Tiro foto dos lugares que visito. Talvez seja um modo de levar os lugares comigo, um jeito de voltar lá. Por não saber pintar, nem criar, encontrar um ângulo favorável é o mais perto da arte que consigo chegar!
O perigo disso é subtrair a realidade, é ver a paisagem através de um display, e só! É não olhar, é não ver, é não estar no lugar, não aproveitar. Parece que dizer "eu estive lá" é mais importante do que ter estado lá. Parece!
Por que dessa conversa entre mim e mim mesmo? Vi uma moça fotografar um slide numa apresentação, era uma frase qualquer, dessas que usamos para "fechar com chave de ouro". Não sei se a moça leu a frase e gostou, era uma frase, podia ter sido copiada no canto de uma página do caderno, mas não; a frase se desfez, virou imagem, foi morta. A moça não deve ter gostado daquela frase.
uma imagem vale mais que meias palavras
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