Quem nunca teve vontade de viajar depois de ver um filme, de beijar na boca depois da cena final daquele filme bobo, ou de tocar guitarra depois do show daquela banda muito foda, ou ainda, dirigir um automóvel rumo a lugar algum, ouvindo velhas canções após terminar aquele livro? Quem nunca?
Quem nunca esperou um empurrãozinho para , finalmente, ser o que é? Estamos tão longe de nossos anseios mais instintivos e primários; estamos perto demais de uma fé cega que nos cega, de uma liberdade que nos livra de tanto bem. Estamos longe de nós!
Quem nunca se viu alcançado por pensamentos irregulares em momentos de muito frio, ou muito calor?, e eu nem sei como anda o tempo lá fora! É dirigindo na madrugada, enquanto a cidade finge repousar, ou quando caminho sem pressa, sem destino, que me vejo! O quanto de mim roubaram! O quanto de mim deixei que roubassem!
(Estava lendo e não aguentei, acabei correndo pra cá, pra escrever. Um empurrãozinho, como num livro, num filme, num beijo, num riff, num ímpeto só!)
E quem nunca quis sair de casa às duas da manhã e caminhar sentindo frio? Quem sabe um cigarro entre os dedos, quem sabe um nada nas mãos, ou um sorriso discreto no rosto, quem sabe o medo do outro, quem sabe apenas a noite como companheira? Quem sabe, tropeçar em mil mendigos sem perceber pena ou graça!
Às vezes, dá vontade de partir, pra longe, muito longe, até a Fraga Maia; respirar, pisar sobre meus próprios pés - rejeitando a vossa pressa -, soprar o ar na concha que faço com as mãos, sem deixar nada para trás, quero levar tudo o que sou comigo, e voltar pra casa fingindo que encontrei um sentido pra viver!
Quem nunca quis parar? Quem nunca quis seguir? Quem nunca?